Ali estava se apresentando a banda Jazz 6, que tem como seu saxofonista, ninguém menos que o escritor Luis Fernando Veríssimo.
Embora tenhamos chegado perto do final da apresentação ainda pudemos curtir bastante uma boa parte do repertório. Quando encerraram, os músicos sentaram-se juntos com seus conhecidos para celebrarem.
Não resistindo à tentação, me dirigi até onde estava o senhor Luis Fernando para cumprimenta-lo. Agradeci e elogiei a performance de todos os músicos e teci algum comentário bobo sobre se "o nosso Internacional" iria se endireitar naquele ano e nos dar o Brasileirão. Ainda não foi nem dessa vez!
O extraordinário escritor(e muito competente saxofonista) foi educado, amável e atencioso, tanto quanto sua muito famosa timidez o permitiu. Voltei à mesa com uma expressão(suponho) abobalhada como uma criança que ganhou muitos chocolates.
Mais tarde quando saímos e entramos no elevador, qual não foi nossa surpresa ao ver chegar em seguida o senhor Veríssimo, que seria nosso companheiro até o térreo. Se tivéssemos tentado fazer de propósito, não daria tão certo.
O problema é que ficamos sem saber o que dizer, entre inúmeras coisas que passaram por nossas mentes ao mesmo tempo. Ana e eu ficamos com sorrisos infantis em nossos rostos e aqueles olhinhos arregalados e brilhantes, cheios de vontade de falar algo, mas morrendo de vergonha de que saísse uma besteira diante de alguém que domina brilhantemente as palavras.
Quis dizer a ele que os primeiros livros que li em minha vida foram escritos por seu pai, Erico Veríssimo. Que dois desses livros me foram dados de presente por meu tio Hélio e minha tia Heloísa e o terceiro, Tibicuera(um dos meus favoritos até hoje), havia pertencido a meu avô materno e eu acabei dando de presente a minha professora da quarta série por quem era apaixonado. Queria contar a ele que, ainda gurizote, eu ria feito um louco abençoado lendo as narrativas de seu Analista de Bagé, sentado no sofá da sala de outros tios em São Lourenço durante minhas férias de verão. Mas não consegui pronunciar nenhuma palavra.
Conforme o elevador descia o peso do silêncio instaurado foi tanto que o próprio Luis Fernando forçou-se a sair de sua zona de conforto e comentou:
- Parece que o tempo vai mudar de novo, né? Tem feito uns tempos meio estranhos... A gente nunca sabe...
- Ah! Sim é verdade, bem estranhos... - Concordamos.
Novo silêncio; mas logo em seguida a porta abre. Chegamos ao térreo. Foram apenas cinco andares, mas pareceram quinze durante a descida e somente um depois que nos despedimos dele e tomamos nosso rumo enquanto ele entrava em um táxi.
Fica uma lição: sejam breves ou longos, os momentos precisam ser vividos da melhor forma possível, já que nunca avisam antes se vão ou não ser especiais.
No natal de 2009 minha prima Daniele me presenteou com um livro com uma singela dedicatória e autografado pelo Luis Fernando Veríssimo. É um dos meus pequenos tesouros.
_LPR_
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