RUA DOS CATAVENTOS
XIII
XIII
Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
M. Q.
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
M. Q.
FANTÁSTICA
Ampla se estende a erma planície nua.
Cobre-a o funéreo manto do luar
E cada sombra no chão se recorta
Com nitidez de paisagem lunar.
Mas que imobilidade singular
Que as coisas têm! E que nudez! Aflito,
O ouvido indaga, espera... E nem um grito
Vem o imóvel silêncio apunhalar.
Mostra-se a Lua. A sua enorme face
Lembra um disco de prata formidando
Que um Titã aos Céus arremessasse;
Vem branca, branca, de um palor que pasma.
E enquanto vai a Lua transmontando
Uiva lugubremente um cão fantasma.
M. Q.
Ampla se estende a erma planície nua.
Cobre-a o funéreo manto do luar
E cada sombra no chão se recorta
Com nitidez de paisagem lunar.
Mas que imobilidade singular
Que as coisas têm! E que nudez! Aflito,
O ouvido indaga, espera... E nem um grito
Vem o imóvel silêncio apunhalar.
Mostra-se a Lua. A sua enorme face
Lembra um disco de prata formidando
Que um Titã aos Céus arremessasse;
Vem branca, branca, de um palor que pasma.
E enquanto vai a Lua transmontando
Uiva lugubremente um cão fantasma.
M. Q.
NO SILÊNCIO TERRÍVEL
No silêncio terrível do Cosmos
Há de ficar uma última lâmpada acesa.
Mas tão baça
Tão pobre
Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos,
Pelo fundo dos armários,
Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas,
O pequeno crucifixo de prata que tu me deste um dia
Preso a uma fita preta.
E por ele os meus lábios convulsos chorarão
Viciosos do divino contato da prata fria...
Da prata clara, silenciosa, divinamente fria - morta!
E então a derradeira luz se apagará de todo...
M. Q.