“Não é que eu tenha total confiança de que os cientistas estão certos, é que tenho absoluta certeza de que os não-cientistas estão errados.”







____________________________________________________________________Isaac Asimov.













"A ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento: são aqueles que sabem pouco, e não aqueles que sabem muito, que tão positivamente afirmam que esse ou aquele problema jamais será resolvido pela ciência."



"Se o mistério da pobreza não for causado pelas leis da natureza, mas pelas nossas instituições, grande é o nosso delito. "





______________________________________________________________________________Charles Darwin.





_





.

"Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós."





"Nós podemos comparar (a situação palestina) com o que aconteceu em Auschwitz."





"Mas então ninguém percebe que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino?"





________________________________________________________________José Saramago.




.


.


COSMOLÓGICA - A MATÉRIA HUMANA FORJADA NO CALOR DAS FORNALHAS ESTELARES DISTANTES!

Cosmológica

Sagan.


.





"A História está repleta de pessoas que, como resultado do medo, ou por ignorância, ou por cobiça de poder, destruiram conhecimentos de imensurável valor que em verdade perteciam a todos nós. Nós não devemos deixar isso acontecer de novo."




_______________________________________________________________________________Carl Sagan.





.

.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

ARGENTINOS... ARGENTINAS...

Perto do final da década de 1990, ao acompanhar o amigo Alex em um encontro de negócios numa cafeteria no centro de Porto Alegre, Pedro não esperava que da conversa fosse surgir para ele próprio uma proposta de trabalho.

 O fotógrafo argentino que utilizara os serviços de design de seu amigo, convidou Pedro, após saber que se tratava de um escritor em início de carreira, para trabalhar em um projeto de uma espécie de "fotonovela" para um jornal do interior do Rio Grande do Sul.

Encontraram-se novamente, apenas Pedro e o fotógrafo argentino, na mesma cafeteria(cujo nome auspiciosamente era Café Buenos Aires)  alguns dias depois e começaram o processo de desenvolvimento do tal projeto, acertando os detalhes e iniciando um conhecimento mútuo.

O "hermano" já estava no Brasil há uns dez anos mas ainda mantinha um sotaque carregado e um visual característico que fazia dele um estereótipo de jogador de futebol platino, onde só faltava uma bandana ou faixa.


Conversaram acerca dos temas que seriam abordados, características dos textos, prazos de entrega dos roteiros, pagamentos, enfim, todos os detalhes para o início do trabalho.

Em outra vez que se encontraram, antes de irem para a cafeteria de sempre, esperaram a bela esposa do fotógrafo argentino sair da academia onde malhava depois do trabalho, no centro de Porto Alegre. Ela,  brasileira, muito bonita, os acompanhou e participou da conversa que tiveram, agora, menos profissional e mais cheia de amenidades.

Em certo ponto alguém tocou na questão do tratamento e do relacionamento entre brasileiros e argentinos. Ao que Pedro pergunta:
- Qual tua impressão, depois de tanto tempo de convívio e sendo casado com uma brasileira, sobre as pessoas daqui?
E recebeu uma resposta incômoda:
- Acho que os brasileiros são péssimos anfitriões, mal-educados, rudes e um povo que se acha melhor que os outros. São arrogantes e pouco inteligentes.

Um breve momento de silêncio constrangedor, que pareceu durar meia-hora, foi quebrado pela pronúncia de algo que nem palavra era, saída da boca de Pedro:
- Mmmmmaaaahhhss...

Ele olhou para a esposa brasileira do fotógrafo argentino, tentando buscar cumplicidade numa possível retaliação, mas a encontrou apenas balançando a cabeça afirmativamente, concordando com seu marido.

Continuou desconcertado por mais alguns instantes até que se deu conta de que sua reação poderia confirmar ou pôr por terra o conceito que ali havia sido lançado.

Se éramos assim tão execráveis, o que fazia que continuasse a nos suportar, uma vez que sua esposa concordava com ele e era só uma questão de voltar para sua terra levando-a junto?

Imaginou que fosse algum teste para verificar seu grau de civilidade e, então calmamente, fez mais uma pergunta, até como forma de lhe dar uma chance para se redimir:
- É claro que esta opinião vem de tuas experiências pessoais ao interagir com nosso povo e ter de suportar a pouca simpatia originada essencialmente pela rivalidade vinda do futebol. Pelos paulistas, fluminenses e demais não posso falar nada, mas irás concordar comigo que os gaúchos são muito hospitaleiros, não é mesmo?

Recebeu a "tijolada":
- Os rio-grandenses? Esses são os piores! São tudo o que eu já falei sobre os brasileiros, reforçado por mais uma dose de ignorância.
A esposa brasileira(gaúcha) do fotógrafo argentino continuava a balançar positivamente a cabeça e balbuciava seu mantra:
- É mesmo... É mesmo... É mesmo...
Foi demais para Pedro. A situação lhe pareceu bizarra. "Só falta ele falar mal do Internacional", pensou.

Interrompeu bruscamente a conversa, fechou a cara e sentenciou, ainda em tom calmo porém seco:
- Vamos encerrar este assunto. Voltemos a falar do projeto.

Foi a penúltima vez que conversaram. Encontraram-se novamente apenas porque Pedro solicitou que lhe fossem devolvidos as cópias dos textos que ele já havia enviado anteriormente por fax e que tinham sido aprovados com louvor pelo exigente fotógrafo argentino.

Pedro recusara desta forma a oportunidade de se iniciar profissionalmente como escritor e amargou muitos anos de espera para ter outra novamente.


...


Quase uma década depois, Pedro conheceu uma bela morena argentina casada com um brasileiro e morando aqui há muitos anos. As circunstâncias que ocasionaram que se conhecessem foram geradas por uma série de coincidências totalmente improváveis, mas que culminaram em um encontro e numa conversa intensa em, acreditem, uma certa cafeteria no centro de Porto Alegre.

Ao inquiri-la sobre a saudade que devia sentir de sua terra natal recebeu como uma gratificante resposta:
- Saudade nenhuma; eu não! Os argentinos não prestam, são arrogantes, pretensiosos, se acham melhores que todo mundo!
Empolgado pela resposta, pela beleza da morena argentina, por seu suave e delicioso sotaque e pela intimidade da conversa que estavam tendo até então, Pedro, cheio de confiança e demonstrando não ter aprendido da primeira vez, fez a previsível pergunta:
- E o que acha dos brasileiros?
Teve como merecida resposta:
Os brasileiros? São exatamente iguais aos argentinos! Também não prestam! Olha, e os gaúchos...
A bela morena argentina foi calada por uma pegada forte seguida de um intenso beijo. Pedro decidira interromper aquele assunto imediatamenete e essa foi , decididamente, a melhor forma de faze-la calar.

Cerca de quatro horas depois, ao afagar os negros e sedosos cabelos da bela morena argentina (casada com um gaúcho, vale lembrar) que repousava a cabeça sobre seu peito naquela cama de motel, não pôde deixar de pensar que, apesar de te-la ajudado a trair um conterrâneo seu, não tinha dúvidas que "antes eu que um argentino".


_LPR_



Este texto foi publicado na edição de estréia do informativo ESPAÇO DE NOTÍCIAS que circulou  em 2008 por Cachoeirinha(RS) durante um curto período de tempo. Obrigado pela oportunidade Sirlei.
_

Nenhum comentário: